segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Voar, voar, subir, subir...

Em 2004 meus pais se separam, já contei isso.

Cheguei em Maringá sem conhecer ninguém, além das minhas primas.

Ir para a escola era um saco, todo mundo tirava sarro do meu estado, da minha região e da Amazônia.
Me chamavam de Índia e faziam piadas do tipo: "lá pega celular?"
"tem supermercado? shopping?"

Sofria de verdade.
Pra ajudar tinha o método de ensino totalmente oposto ao de Nova Brasilândia e o frio de matar que não me deixava sair da cama.

Fui protelando todos os dias pra aula, chorava, gritava, era um terror.
Tanto que, no meio de 2005, voltei só pra estudar em RO, tamanha era a falta de adaptação á escola, cidade e amigos.

Quando vim pra Maringá outra vez, já estava mais habituada, ano começando novinho, amigos novos, professores novos, tudo novo.
Bem mais fácil.

Foi nesse ano, que conheci o Rafael, pra mim, Rafa. O Rafa era candidato a presidência do Grêmio Estudantil Tomaz Edison De Andrade Vieira, o nome da escola. Era engajado, empenhado e muito inteligente.
Estudava a 8º ou 1º se não me engano, não era da minha classe, mas passava lá fazendo campanha.
Eu, com essa minha espontaneidade de hipopótamo e delicadeza de barata, cheguei chegando e disse: - Posso ser sua amiga? a gente combina.

Ele não deve se lembrar, mas, foi exatamente assim que aconteceu.
Passamos então, o resto do ano sendo amigos.
Eu era um verdadeiro moleque, formávamos uma gangue no bairro. haha!
Pra todo lado aquela galera.
Fazíamos festas, jogávamos volei, fazíamos gincanas na escola e até dormíamos todos juntos aqui em casa.

Ele tinha um montão de espinhas no rosto e a língua presa, o que eu achava super engraçado e ao mesmo tempo charmoso.
Mas o Rafa nunca suportou as espinhas, haha.

Eu sai da escola e continuamos amigos.
Ele mora num bairro que fica atrás do meu, o ponto de ônibus que ele desce faz frente á minha casa.
Durante muito tempo, nos falávamos com frequência, mas depois, começamos a trabalhar e encarar a vida de adulto.

Nunca deixei de pensar em Rafa e no que ele estaria aprontando, até que uma vez o vi no ônibus, muito bem vestido, de terno e gravata.

Nos abraçamos longamente e fomos durante todo o percurso, conversando animadissimos do tipo - E aí Rafa, o que tem feito da vida?

Ele estava trabalhando em um Hotel e fazendo um curso de Comissário de Bordo. Também estava tomando remédios para as espinhas. HAHA'.

Foi uma longa e curta conversa ao mesmo tempo, tinha muito mais coisas pra perguntar e falar. Nos abraçamos novamente e eu disse.
- Ei Rafa, quando você sai do trabalho?
- Meia noite, chego no Borba.
- Passa lá em casa.
- Tá, eu passo.


Da janela do meu quarto, consigo enxergar quem desce do onibus.
Esperei até 1 da manhã e nada dele aparecer.

Uns 4 dias depois, tava deitada já, pronta pra dormir, quando escuto.
- Anaaaaaa
Olhei pela janela, e lá estava, Rafa, chegando do trabalho..

Sentamos no degrau da escada e conversamos por horaaaas.

Ali, naquele dia, ficou estabelecido que, acreditaríamos piamente um no outro e arranjaríamos logo, uma maneira de ficar ricos e dominar o mundo.
De verdade gente, pensamos em mil maneiras de botar esse plano em prática.

Vários outros dias vieram, passávamos madrugadas bolando planos mirabolantes para aparecer na Forbes.
Treinando o Inglês, feito retardados. Conversávamos muitoooo. rá!
Rafa já com 20 e poucos anos, terminou o curso de Comissário e começou a mandar currículos incansavelmente para as Linhas Aéreas. Mas nunca obteve resposta.

Saiu do Hotel e tava meio sem rumo, perdeu o pai, a mãe era massagista e a irmã animadora de festas infantis.

Nunca vi ele reclamar de nada, muito pelo contrário, sempre sorrindo, brincando e me fazendo rir também.


No ultimo dia 30, Rafa veio aqui em casa.

Disse: - Vim me despedir, dar tchau pra você que tanto acreditou em mim.
- Como assim Rafa? vai pra onde?
- Pra São Paulo.
- Mas porque, sua mãe vai? o que aconteceu?
- Recebi um e-mail da TAM, começo o treinamento no dia 03.
- I DONT BEEEELIEEEEVEEEEE!!!! JURAAA?
- Juro.
- Eu nunca duvidei de você Rafa, sempre soube que iria conseguir.
- Eu sei, por isso vim me despedir de você. Por ter acreditado e torcido por mim.


Rafa, viu só? Todo o esforço valeu a pena. Tá lá, você vai voar como sempre sonhou.

E na melhor. É a sua hora de brilhar, a sua vez.
Você é merecedor de tudo e mais um pouco. 


Um beijo bem grande, meus parabéns, eu te amo.

3 comentários:

Camila disse...

De arrepiar..e chorar. (ta, estou sensivel essa semana).
Amizade linda!
E Boa Sorte para o Rafa. A minha cidade é meio maluca. Mas é demais.
Alias, Dona Ana, me deve uma visita.

Bjs!!!

Ana Paula disse...

Eu vou, eu quero, eu preeeeciso ir a Sampa, 25 de Março, museu, teatro e bares, muitos bares.. uahsuahsuahuh
beeeijo, saudades.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.